O apartamento de 340m², situado em um edifício neoclássico construído há aproximadamente 20 anos, já pertencia à família do jovem empresário e era ocupado apenas esporadicamente. O décor, que acompanhava a linguagem arquitetônica da época, demonstrava os sinais do tempo. Ao procurar o escritório para atualizar os interiores do imóvel, a fim de nele estabelecer sua nova morada, o cliente exprimiu seu desejo por ambientes que traduzissem uma atmosfera mais contemporânea, condizente com sua personalidade e com seu estilo de vida atual.
O projeto propôs intervenções simples, por meio de uma reforma que buscou aproveitar ao máximo a estrutura sólida do apartamento, preservando e revalorizando elementos nobres preexistentes. Nesse sentido, o revestimento de mármore crema marfil polido, que percorre toda a área social do imóvel, passou por um processo de levigamento para ganhar acabamento fosco, viabilizando o toque de contemporaneidade desejado sem comprometer a sofisticação e a sobriedade do material.
No que diz respeito ao forro de gesso existente, cujos grandes rebaixos abrigavam o sistema de ar condicionado e emolduravam os ambientes ao gosto clássico, sugeriu-se uma solução mais moderna por meio da criação de vigas de gesso revestidas com cimento queimado. A intervenção, além de manter a funcionalidade do rebaixo, reforça a linguagem adotada pelo projeto, trazendo maior assepsia visual, remetendo à tradição brutalista e conferindo uma ambiência mais masculina.
Ainda que não fosse uma demanda inicialmente clara, o apartamento assumiu esse DNA fortemente masculino – pelo qual o cliente já revelara interesse, face à sua admiração por outros projetos do escritório em que esse traço esteve presente. O layout proposto refletiu tal percepção, tendo em vista o pedido do morador de contar com uma mesa de bilhar na área de estar. O escritório iniciou, então, uma busca por um modelo que reiterasse e dialogasse com a sofisticação do espaço, chegando à Centennial Pool Table, uma autêntica mesa de bilhar Art Déco produzida em edição comemorativa pela lendária marca americana Brunswick, na ocasião do seu centenário em 1946.
Protagonista do projeto, a mesa de bilhar – adquirida de um colecionador americano e restaurada – revelou-se também elemento crucial na organização dos espaços. Centralizada em relação às duas portas de vidro que acessam a varanda social, a mesa setoriza os ambientes de estar: de um lado, um living tradicional com sofá, e de outro, junto à lareira, uma área de lounge com poltronas. Ademais, não compete visual ou espacialmente com a mesa de refeições, uma vez que a sala de jantar, embora integrada, encontra-se resguardada em um espaço adjacente.
O caráter atemporal do projeto foi garantido pela escolha do mobiliário e dos objetos de decoração, os quais, pertencentes a distintas épocas e estilos, encontraram sintonia e viabilizaram uma linguagem coerente com o décor e a atmosfera desejados pelo cliente. Foram escolhidas peças de designers nacionais e estrangeiros, jovens e consagrados. Destacam-se, em tal sentido, a poltrona Paraty, do amplamente reconhecido Sergio Rodrigues, o sofá assinado pelo jovem Bruno de Carvalho e o lustre da tradicional grife italiana Vistosi, que ilumina a mesa de bilhar e reforça sua centralidade no projeto. No mais, algumas peças foram desenhadas pelo próprio Diego Revollo especialmente para o projeto – como as mesas de centro do lounge junto à lareira, em mármore travertino silver, e a mesa de jantar em madeira laqueada preta e metal polido.
Por fim, a curadoria das obras de arte orientou-se pelo propósito de complementar o décor com toques de cor e irreverência, além de reafirmar a contemporaneidade desejada pelo cliente. Além de fotografias e esculturas com linguagem elegante, ressalta-se a tela em tons levemente rosados de Sergio Lucena, que assumiu o ponto de cor mais forte no projeto, assim como a obra de José Bechara posicionada sobre a mesa bar. Uma seleção que enriqueceu os ambientes, sem ofuscar a personalidade única do projeto.
